"O mais difícil de entender nessa história é como pode AINDA existir alguém discutindo SE isso deve ser proibido ou não"...
Quem já passou mal do fígado sabe que não deve existir mal-estar pior que esse. Além de muito enjôo, a sensação é de que a gente vai morrer a qualquer minuto, fica difícil até pra respirar. E isso pode durar várias horas, até a gente ser remediado ou vomitar bastante, mas imagina você sentindo isso 24 horas por dia, sete dias por semana e sem remédio nenhum para aliviar o sofrimento...
Imagina também que ao mesmo tempo em que passa mal do fígado, você tem muita dor no estômago porque alguém mantém ele permanentemente lotado por uma pasta de maisena com gordura de porco... Pensa nessa pasta sendo enfiada à força pela tua garganta, várias vezes ao dia, e que por mais que você queira vomitar, mais pasta recebe, para que seu estômago permaneça o tempo todo muito cheio e seu figado fique cada vez mais inchado, mais doente.
Sentiu que tortura "legal"? ... Consegue imaginar alguém sentindo isso o tempo todo, por duas ou três semanas inteiras ou até não aguentar mais e morrer antes do sacrifício final? ... Pois é exatamente o que proporcionamos a milhares de patos, todos os dias, aqui mesmo, no país do futebol...
Para que uma minoria possa saborear seu patê de fígado de ganso ou pato (foie gras), principalmente fora do Brasil, para onde exportamos a maior parte da nossa produção, essas aves precisam ficar com o fígado muito doente e, por isso, recebem essa alimentação forçada. São até três quilos e meio de ração gordurosa injetada diretamente no estômago, todos os dias. Guardadas as devidas proporções, seria como enfiar, em um homem adulto, pelo menos 30 kg. Trinta quilos de pasta gordurosa por dia... Quantos dias você aguentaria?
Além do fígado destruído e das dores no estômago, que muitas vezes é rompido por causa da superlotação, esses pobres animais também sofrem por lesões provocadas na garganta (que permanece o tempo todo machucada, inflamada, graças ao tubo enfiado com violência várias vezes por dia). E essa tortura acontece em uma gaiola minúscula onde o animal não pode nem abrir as asas, até ser abatido com aproximadamente quatro meses de "vida".
O mais difícil de entender nessa história é como pode AINDA existir alguém discutindo SE isso deve ser proibido ou não... Aliás, como pode também tanta gente empenhada em acabar com o sofrimento em laboratórios de testes com animais - ao mesmo tempo em que passa batido um inferno muito pior que todos os laboratórios juntos? Desde 1998, no estado de Santa Catarina, a empresa Villa Germânia produz essa "iguaria", e atualmente a produção é de uma tonelada por mês. Imagina quantos patos são torturados, para se conseguir uma tonelada só de fígados doentes.
O foie gras é proibido em vários países, entre eles estão Argentina, Áustria, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Irlanda, Israel, Índia, Noruega, Suécia, Suíça, Holanda, Reino Unido, Polônia etc. Nos Estados Unidos, é proibido no estado da Califórnia, e no Brasil existe um PROJETO de lei* para que seja proibido em São Paulo, além do Paraná onde já aprovaram projeto semelhante, mas ainda não foi para votação. Por isso é importante que este assunto seja bastante divulgado, para que logo alguém resolva acabar com essa insanidade. Não apenas em São Paulo ou Paraná, isso precisa acabar no país inteiro*, em todo lugar, mas principalmente em Santa Catarina - onde o nome do inferno é Villa Germânia, - e o nome da besta é ser humano.
Samuel da Costa
24/04/2014
*Atualização (18/07/2015): A lei que proíbe a produção e comercialização de foie gras em São Paulo foi publicada no dia 26/06/2015, e tinha prazo de 45 dias para entrar em vigor. Mas antes disso entraram em ação os chefs e donos de restaurantes, que classificaram como absurda a proibição... Segundo eles, outras espécies sofrem até mais na criação e abate, por isso alegaram que a lei é inconstitucional e conseguiram a suspensão da mesma (em 14/07) antes que fosse colocada em prática.
*Atualização (16/03/2017): Esse artigo já tem quase 3 anos e nada foi feito ainda. Por favor, assinem a petição.
____________________________
O vídeo contém cenas chocantes. Se você for muito sensível, não abra.
No final do vídeo tem funcionária da "empresa do terror" - garantindo que os patos não sofrem NA HORA DO ABATE, "devido à baixa luminosidade e controle do CHOQUE" (segundo suas próprias palavras)... E no meio aparecem algumas pessoas defendendo essa aberração; entre elas, dois jornalistas debochando do sofrimento dos animais, em uma matéria da Globo News. O primeiro (Jorge Pontual), pelo menos pediu desculpas, depois da repercussão negativa, mas no vídeo original o repórter Gerson Camarotti diz, sorrindo, que esses animais "foram criados pra isso mesmo"... e se depois ele também retratou-se, nós não ficamos sabendo.